sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Hoje é dia de cinema- 04/09/15

Hoje é dia de cinema?Sim, senhor! Quando se faz a escolha da pesquisa de campo por meio da cartografia, a cada visita saímos e entramos de formas diferentes dos lugares pesquisados e há sempre formas distintas de adentrar o espaço e travar contato com aqueles que ali estão. Há sempre o impulso de não romper o silêncio e o descanso de quem dorme ou de não interferir na organização já existente, mas se assim fosse,como oferecer-lhes a experiência do cinema?É necessário então encontrar a forma certa para poder avançar, conquistando a cada passo mais um pouco de território simbólico. Hoje não foi diferente. Para começar, a quantidade de pacientes tornava qualquer tarefa de longa duração enfadonha para as crianças que, para tornar tudo mais complicado, eram de diversas faixas etárias. A opção escolhida pela equipe de educadores foi pela escolha e exibição de filmes. Filme escolhido, era necessário fechar as cortinas da enfermaria, organizar os assentos e chamar a plateia para assistir. Hoje, curiosamente, não foi necessário levar o filme ate os leitos da enfermaria.Ao contrário. As crianças,provavelmente devido à melhora de seu estado, levantaram quase todas e juntaram-se para assistir ao filme.Assim,acomodada a plateia,começou a exibição do filme e os olhos das crianças concentraram-se atentamente na história que viam desenrolar-se na tela. Em dado momento, ante o surgimento de um personagem egípcio, ouviam-se as observações da plateia, comemorando ou criticando as ações do vilão. Por alguns minutos o espaço do hospital transformou-se em sala de cinema, seja pela organização da plateia em cadeiras estrategicamente localizadas, seja pelo escurinho da sala ou o tamanho da tela. Logo que o filme acabou, iniciou-se uma atividade de jogos de sombras, o que gerou algum conflito entre as crianças, quando duas resolveram escolher a mesma boneca de palitos. Brigas. Reclamações. Choro. Então a mãe de uma das conflitantes,uma menina de seus 3 anos, resolveu oferecer-lhe uma massinha de modelar. No gancho da ideia, propus que contássemos uma história de animação com a massinha. Aos poucos, enquanto eu tentava dar uma forma remotamente parecida com um coelho à massa, as lágrimas começaram a diminuir e logo se espremeu entre as bochechas da pequena paciente um sorriso. Logo, interagíamos com os bonecos de palitos e fomos até a tela, levar o “coelho” e os bonecos para o centro da narrativa. Brincando de sombras, mostrei que podíamos criar coelhos com nossas mãos e com os bonecos de palitos. A menina, agora rindo bastante, pareceu adorou a diversidade das atividades, embora, verdade seja dita, não prestou tanta atenção ao filme exibido depois. Necessário dizer que passei o restante do tempo refazendo infinitas vezes o coelho que a cada momento tinha uma aparência diferente. E então se torna mais claro o verdadeiro recorte comunicacional da prática no hospital: entrar em contato, chegar ao outro é também e principalmente saber ouvir suas demandas, acordar um nexo em comum, mesmo que não seja necessariamente a partir da experiência fílmica, mas pelo caminho da sociabilidade. O mais importante parecem ser as narrativas criadas, laços que vão aos poucos gerando amarras entre os participantes e nós. É preciso estar sempre alerta para perceber em cada gesto, em cada palavra uma porta a ser aberta, uma possibilidade vinculativa. Nesse viés,a razão sensível torna-se o elemento fundamental para observação.A menina, dona de um coelho que se refazia muitas vezes, sorria feliz. No final cada criança voltou para sua cama, os objetos foram guardados e a menina do coelho, saltitante, voltou para sua casa, pois ganhara alta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário