sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O pequeno cineasta-09/08/15

Pedro é um pequeno cineasta. Em seus oito anos, já sabe dividir uma história em pedaços, pensar em cada etapa do roteiro e acrescentar elementos para dar mais emoção à narrativa.Além de cineasta, Pedro tem mais duas paixões: filmes de terror..E dinossauros!
Costuma dizer que ninguém sabe mais de dinossauros do que ele. Realmente, o menino não somente enumera uma dezena de nomes diferentes, quanto cria os que não consegue nomear. Não satisfeito, desenha heróis que são metade dinossauro, metade gente.
Hoje, Pedro quis fazer um filme. Ele,parou, pensou, coçou a cabeça até descobrir,no fundinho da memória, um sonho que envolvia tubarões, colares, a morte da tia e,claro,dinossauros.Com um papel na mão,ele explicou claramente o que queria:dois dinossauros, que travaram uma luta de vida e morte.Levaram-no até a câmera.Ele pediu uma cadeira ,das de diretor, com nome nas costas.Deram-lhe a cadeira. Então ele pediu a claquete. Espanto geral.Mas como esse menino tão pequeno sabe o que é uma claquete?
- Sei sim, disse Pedro. Vi num filme. E serve para cortar os filmes em partes. Os adultos perto dele emudeceram de espanto. Mas havia um filme a ser feito. Pedro sentou-se, pediu que lhe ajustassem o tripé, colocou a câmera no ângulo que lhe pareceu correto e recomendou ao ator a forma como ele devia entrar. Sim, Pedro tinha um elenco em seu filme, formado de um adulto que seria regiamente remunerado pelo cachê que o concentrado diretor foi buscar à gaveta mais próxima: uma bala de café.
Ajustados os aparelhos, ensaiado o ator (o diretor deixou claro que não queria usar bonecos como personagens. Queria o uso de sombras projetadas pela luz em um biombo de tecido). E assim foi. Quando tudo estava pronto no set ele ergueu as mãos, bateu palmas e disse: ação! Em poucos minutos, fora gravada a primeira cena. Então Pedro se levantou, postou-se atrás do biombo para representar o segundo personagem e novamente comandou a claquete:Ação!
Cena filmada, o diretor quis ver o resultado e gostou do que viu. Então, categoricamente, perguntou:onde meu filme vai passar?Quando disseram que poderia ser enviado para um festival que exibia filmes em praças, ele interrompeu imediatamente:- Não, não quero praças, quero uma sala, de cinema. Grande,escura,cinema mesmo sabe?
Ante o silêncio de todos (aqueles silêncio típico dos adultos quando ouvem grandes verdades das crianças), Pedro pagou o cachê do ator e voltou pra sua cama, feliz com sua obra, não sem antes ouvir a promessa de que teria seu filme editado e entregue na semana que vem.
Ele estará na mesma cama na semana que vem, que por acaso é dia de seu aniversário. E estará na próxima e na próxima também. Pedro é mais um dos pacientes internados na enfermaria do Hospital Universitário. Sua locomoção depende da boa vontade de alguém que caminhe a seu lado, carregando os aparelhos que o mantém vivo. Foi assim que dirigiu, ensaiou e atuou .
Pedro acabou de fazer o segundo filme. O primeiro, intitulado por ele “Pedro no CTI”, foi muito mal recebido pelo público, seus parentes e médicos, que não entendiam porque o menino queria contar em um filme seu cotidiano no hospital, em vez de valer-se da ficção. Ele respondeu, imediatamente:me deixem contar minha história.

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