sábado, 2 de julho de 2016

No território sagrado da infância

Territórios Sensíveis- Reunião mensal Hanseníase-13/06/16.HU





Com o prosseguimento das atividades no Hospital universitário, fui convidada a participar de uma reunião dos pacientes de Hanseníase. A ideia era sensibilizá-los para a questão do cuidado de si. Então escolhi,através da maravilhosa plataforma Videocamp,o filme Tarja Branca.Para quem não conhece, o filme pensa sobre a importância do ato de brincar,para a formação de crianças e adultos (sim,adultos) , mais conectados com sua essência e, definitivamente mais felizes. O filme segue o manual dos documentários mais comuns, com entrevistas entrecortadas por imagens.O que o diferencia,além da cuidadosa direção de fotografia, é que ele mergulha de cabeça no território sagrado da infância, resgatando nossas memórias mais profundas,algumas dolorosas e outras profundamente felizes,mas todas inesquecíveis. Até a última meia hora do filme os pacientes acompanhavam com algum interesse, mas um pouco dispersos. Devido ao tempo curto,fiz um corte até os últimos 20 minutos, onde a temática se alterna.Em vez da importância da brincadeira no horizonte das crianças, fala-se de como é essencial conservar,na vida adulta, a capacidade de brincar. E então todos os entrevistados falam,emocionadamente, das crianças que foram e ainda são E das imagens que guardam da infância. O que diriam essas crianças,para os adultos que eles são hoje?É aí que a emoção fala mais alto, os olhos brilham e os rostos se contraem,tentando segurar o choro. Por vezes,é uma tarefa impossível de se executar.Então vemos meninos e meninas,em seus 40,50 e 60 anos, transformados,pela simples lembrança das crianças que foram e ainda são.Assim também foi na sala do H.U. Ao final do filme, muitos estavam emocionados .Outros sorriam sem parar e outros ainda,tinham o olhar perdido na infância que tinham acabado de revisitar. A todos propus que voltássemos em nossas memórias e contássemos do que mais gostássemos de brincar.Assim foi.Em um relato coletivo,cada um de nos contou aquilo que mais nos fazia feliz e foi com muita alegria que reconhecemos no relato do outro aquilo que também nos dava prazer em brincar. Em pouco tempo um grande falatório se iniciou. Enquanto trocávamos impressões e relatos, nossas memórias se tornavam coletivas,compartilhadas no breve espaço da sala. E então perguntei, finalmente,se brincávamos ainda do que mais nos fazia feliz quando éramos meninos. Percebi que muitos de nós usávamos de estratégias para continuar a brincadeira,perpetuando-a em nossos filhos e netos, na desculpa do lazer ou do esporte. No fundo,nosso objetivo não era nenhum outro além de continuarmos a manter ao nosso lado, por todo o tempo que fosse possível,os meninos que éramos, correndo descalços pelo quintal,afundando nossos pés na areia fria da praia,sentindo a onda bater em nossas pernas ou buscando as bolhas de sabão que criávamos,apenas porque são belas e nos faziam felizes. Emocionada, a organizadora do evento,como muitos,perdera a voz em algum lugar de sua memória,e quase não conseguia falar. É incrível como a infância nos fragiliza quando a deixamos de lado e como pode, ao mesmo tempo, nos fortalecer, quando a usamos como potência para sermos os adultos que buscáramos ser há muito tempo atrás. É na curiosidade e sensibilidade infantil que deveríamos todos manter nossos pés firmemente plantados,para não esquecermos nunca da responsabilidade de ver o mundo com olhos de criança,em constante aprendizado e igual encantamento.

Trilha sonora do texto: Nuages. Dreamns

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