domingo, 22 de julho de 2018

Epidemia de Cores-texto de 060417

Epidemia de cores (SARETTA, 2016) é um documentário que relata a rotina dos participantes da Oficina de Criatividade ministrada no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre. A escolha se deu porque as atividades programadas para a visita de hoje seriam expandir a ideia de cinema para ver e fazer. Assim, a proposta era assistir ao filme e debate-lo. Logo depois, criar uma imagem com as impressões sobre o filme. A atividade contava com três pacientes e dois profissionais de saúde, logo de início, traço semelhanças entre “real” e “ficção”. Afinal, ambos os hospitais, da tela e no HU, são instituições organizadoras de corpos, com grades e portas, delimitações e fronteiras. Logo de início, ouve-se a fala de Solange, uma das pacientes entrevistadas, sobre o manicômio estar dentro de cada pessoa. Também a interdição de movimentos em um hospital estaria? E se tiramos o sujeito hospitalizado de sua imobilidade e oferecemos um ambiente neutro? A sala de humanização parece ser esse ambiente intermediário, nem privado nem público, nem de interdição ou de liberdade, onde o paciente tem autonomia para entrar (salvo quando seu estado clinico não permite), quando querer jogar, tocar instrumentos, ver televisão ou simplesmente descansar. Ali a janela para uma proposta de oficina de arte se abre, no filme e na sala doa Hu. Não para uma das pacientes. Ao ver a câmera percorrer os corredores do hospital no filme, ela pede desculpas e sai. O filme continua e os relatos de enclausura mento e o debate sobre a desospitalização se contrapõem às oficinas de arte. Enquanto isso, na tela Solange canta uma música que fala sobre liberdade. Ela pede ao diretor que não mostre sua imagem enquanto canta, porque não combina com a temática da música. A voz de Solange ilustra uma serie de práticas mostradas, as cores enchendo o papel, as paredes, os muros do São Pedro e as nossas retinas, do outro lado da tela. Nísia. E Rosangela, pacientes do HU, acompanham atentas o filme, até o final, quando proponho que, com base no que viram, capturem imagens do entorno mostrando o que ficou da narrativa do filme. Enisia fotografa um novelo de lã sobre a mesa e diz que “ as cores me chamam”. Já Rosângela, fotografa um trabalho (desenho) de um paciente, uma obra geométrica com muitas cores e diz que as cores e as pessoas querem ser vistas. Cumpro meu papel fotografando a colorida blusa da coordenadora da humanização. Comentamos nossas fotos e impressões e terminamos a visita. A mistura de cores, de imagens e afetos nas telas, nos corpos e nas nossas falas se na medida em que compartilhamos nossas impressões. Ali, ao buscar uma imagem a capturar, reocupamos o espaco da sala, o ressignificamos, fazendo-o parte de uma narrativa múltipla e de um território sensível. Dos pacientes do hospital São Pedro, em suas cores e cotidiano. Dos pacientes do Hu, suas imagens e rotinas. Todos, atravessados pelo cinema, sem que este fique confinado à materialidade da sala, mas que reexista, na possibilidade de construir relações entre os sujeitos, em experiências –espaco tempo múltiplas.

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