terça-feira, 19 de julho de 2016

Reiventando velhos truques na cartola do cinema

Territórios Sensíveis-28/06/16- Cinema no HU Se há uma palavra que define de modo preciso a experiência do cinema no hospital ela é: imprevisível. Portanto, para adentrar uma enfermaria é preciso ter algumas cartas na manga.De preferência,várias.Ocorre que hoje,infelizmente,eu não tinha. Cheguei então com apenas um pendrive no bolso e a crença de que tudo funcionaria bem. Só não contava com a alta de dois pacientes logo na minha entrada,justamente na única enfermaria disponibilizada pela equipe de enfermagem. Como os dois pacientes manifestaram vontade de assistir aos filmes, me dispus a exibir um curta de animação, Tolerância. A recepção foi maravilhosa e até quem disse que não tinha vontade de assistir filmes parou para ver e comentar. No final, com os pacientes entusiasmados, falamos um pouco de técnicas de animação e então um dos meninos que aguardava a liberação de sua saída me lançou a seguinte pergunta: “Não tem mais não?”Ora, eu não contava com tal pergunta, pois havia me preparado para a exibição de uma longa metragem e tinha como plano B apenas os quatro míseros minutos do curta e mais nada!Então, ansiosamente, comecei a buscar algo no acervo do CINEAD e me deparei com cinco fragmentos do maravilhoso Mèliés, alguns, devo dizer bastante e compreensivelmente deteriorados. Qual não foi minha surpresa ao ver que não somente o menino adorou o filme, como pediu mais.E outro.E mais outro. E ainda um. E, no final,quando só me restava apenas um filme na manga, ele me disse:”Puxa,que pena!Adorei”Aproveitei o gancho e comentei sobre os processos criativos de Mèliés, da mise-em-scene, as trucagens, o stop motion.O menino, empolgado, pediu mais filmes parecidos para ver em casa e agradeceu muito as informações. Saí do hospital pensando sobre como a experiência do cinema pode ser tão imprevisível que, quando menos esperamos, a magia acontece, à nossa revelia, sem que tenhamos absolutamente nada a ver com o que ocorreu. De repente, olhos grudados na tela, o rosto mais impassível é tocado pela superfície porosa da imagem, por suas ranhuras, seu silêncio entre planos, pelo que falta ou excede na história. Se ficarmos bem atentos é possível perceber em cada músculo do rosto a transformação que se espalha pela pele,quando o sentido do filme se faz e se torna,inevitavelmente, encantamento.

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