sexta-feira, 8 de julho de 2016

A incrível batalha de Kaua Craft contra o Malvado Helobrine ou:de quantas formas é possível voar?

Hoje é dia de filmagem?É sim, senhor. Como fazer então, se não há roteiro, técnico ou literário?Para nosso pequeno cineasta, isso não é problema. Assim que chego no hospital ele saca do lápis e rabisca sete planos (deveriam ser cinco,mas ele quis alguns a mais) e ainda pensa numa cena final, pós-créditos. Bem no esquema dos Avengers. Só que nesse caso, estamos falando do universo quadrado do Minecraft, amado por 20 entre 10 meninos por aí. E é nesse universo onde assistimos a criação da história de Steve e Kaua Craft, ali mesmo, na hora. Planos, enquadramento, mise-en-scene, tudo é acertado no calor das filmagens, enquanto o elenco, pacientemente, aguarda sua vez de entrar. Muito em segredo, o diretor confessa que tinha vontade de fazer o papel do Homem Aranha, para poder escalar as paredes do hospital, fazendo essa pobre assistente de direção sorrir pela primeira entre muitas, durante a gravação. Roteiro escrito, atores prontos, ops, não, antes o diretor teve um momento estrela, reclamando que a cenografia não havia trazido o boneco do porco como deveria e que o figurino do ator não estava de acordo com a palheta de cores determinada por ele.Ou seja, a direção de arte errara feio.Ante nossas desculpas, ele se convenceu de que seria melhor filmar com o que tínhamos e nos fez prometer que o próximo episódio da série(porque afinal de contas seu filme seria o longa metragem de uma série) haveria o que chamou de hologramas, com efeitos visuais que simulassem os ambientes do jogo.Não pegava bem afinal que o super Kaua Craft, detentor da poderosa espada de diamante, estivesse ali, num mero hospital. Convencido de que faríamos o possível para que suas demandas fossem atendidas, ele pediu a cadeira de diretor, ajustou a altura da câmera, determinou a entrada dos atores e correu para atuar, porque não basta ser diretor e roteirista, queria estar em cena também. Sempre é bom lembrar que nosso pequeno cineasta está preso 24 horas por dia a um aparelho que o alimenta e, consequentemente, o mantém vivo. Quando o movemos para que possa chegar até o local de filmagem, inclusive, o equipamento apita, ruidosamente. É nosso diretor que mexe nos inúmeros botões da máquina e a silencia, sem deixar de prestar atenção por nem um segundo ao que se passa no set. Uma vez na marcação, ele se vira para mim e diz: “Luz, câmera,ação!” Seus atores, contudo, não sabem quais suas falas!Ele não se perturba. - Improvisem,ele diz! Em um minuto gravamos quase todas as cenas, menos uma, a da entrada da personagem arqueira. Só há um problema: não há um arco na enfermaria. Sem se abalar o diretor-roteirista-ator se torna um produtor de objetos, transformando sua espada em um arco bem razoável. Todos a postos novamente, ele se posiciona próximo a claquete, e diz:-gravando! É incrível como seu corpo franzino se agiganta enquanto está de frente para as câmeras. Ele se torna, em segundos personagem e diretor, determina a ação, comanda tudo!E temos então, mais uma cena gravada. Agora é hora de combinar os detalhes da edição, mas antes de tudo o diretor quer ver o material bruto gravado e reclama bastante do som. Deixamos claro que é apenas efeito da câmera e então, enquanto ele viaja por outras histórias, uma das enfermeiras pede para coletar seu sangue. Automaticamente o diretor se torna menino e o menino se torna paciente, que vai sentar muito quietinho ali na cadeira, enquanto se faz o procedimento solicitado. Depois de finalizada a coleta de sangue ele cansa, não quer mais brincar, pede que o levemos de volta para o leito. Ante tantos papeis desempenhados, não poderia ser diferente mesmo. O diretor se recolheu aos seus aposentos, aos seus jogos, a seu mundo colorido. O que ele talvez não saiba é o quanto coloriu o nosso mundo, todos nós que participamos da filmagem, no momento em que permitiu que compartilhássemos suas fantasias. Enquanto caminhávamos pelo corredor, já na saída, pude perceber que nossas capas de heróis continuavam ali, permitindo-nos, por alguns momentos, voar junto com ele.

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