terça-feira, 7 de junho de 2016

O dia em que Audrey Hepburn visitou o hospital universitário.

Territórios sensíveis-31 de Maio de 2016. Cinema no HU. Enfermaria 9A 33





A tarefa de escolher filmes para a exibição em enfermarias pode ser inglória. Nunca sabemos quais histórias realmente chamarão a atenção dos pacientes e por quanto tempo. Arrisco a dizer que o tempo de fruição não pode ser ,de modo algum, comparado com qualquer outra experiência fílmica.Há,para começar,a constante desorganização da “sala de exibição”, entre visitantes, pacientes e profissionais de saúde. Também há o estado dos pacientes, por vezes desanimados e cansados a ponto de dormirem, quase todos, deixando essa exibidora sozinha a ver o filme. Por vezes o desânimo também me toma.Por isso, todos os filmes têm que reunir componentes visuais e sonoros que possam captar a atenção rapidamente,antes que se distraiam. A escolha dessa semana foi então Bonequinha de Luxo, da inesquecível Audrey Hepburn. A começar da sequência de abertura, em que Audrey passeia pelas vitrines da Tiffany´s, com o belo acompanhamento musical de Moon River, o filme prometia ser um sucesso. Não foi. Havia quem não quis se nem ver, outros concordaram a contragosto com a sessão de cinema.Apenas duas senhoras pediram que eu continuasse.Em dado momento,ninguém olhava para a tela e algumas pessoas,compreensivelmente, dormiam.Quando 10 visitantes chegaram ao mesmo tempo decidi interromper a sessão e fui automaticamente inquirida por duas pacientes: “Parou?Ah!Sem problema, já valeu a pena. Obrigada! “Saí da enfermaria pensando que o tempo do filme e seu recorte, nesse caso, não necessariamente são definidos pelo exibidor ou pelos produtores/diretores da obra. Ali,em um ambiente em constante desarranjo, a experiência fílmica é transitória, tem sua temporalidade particular obedece a lógicas internas muito peculiares.Contou não é ,de modo algum,menos intensa.

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