segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Territórios sensíveis-16/01/16-Cinema no IPPMG

- “Tia, tem Velozes e furiosos?”





Na primeira sessão de cinema do ano os pedidos não mudaram. Seja qual for a idade, a enfermaria ou o estado de saúde, pacientes e acompanhantes sempre pedem a mesma coisa: um filme blockbuster. Afinal, se levamos o cinema para eles, por que não seria algo que já conhecem? É difícil compreenderem que os filmes do acervo não estão no cinema da esquina, mas foram feitos como instrumentos de uma educação audiovisual que nem sempre os pequenos espectadores estão dispostos a aceitar. Tenho a tendência a conversar com todos sobre suas preferências e percebo que, para a grande maioria, o cinema é como uma televisão em que encontram os mesmos produtos e personagens em um ambiente mais confortável e com pipoca de qualidade. No hospital, em meio à agitação da enfermaria, com frestas de cidade entrando pelas cortinas rasgadas e quando qualquer um pode de repente interromper a exibição do filme, como é possível existir experiência cinematográfica? Enquanto penso sobre essa questão, exibo Príncipes e Princesas, Minhocas e, claro, o agora já clássico Ernesto no país do futebol . É incrível como a temática do futebol vence muros de impaciência e preguiça e convoca os olhares dos meninos. Apesar de emburrado, pois não exibi nenhum dois vários filmes blockbusters que me pediu, um dos meninos (meio a contragosto) assistiu ao filme. No final, quando os créditos são acompanhados pela execução do hino nacional, alguns pais cantavam junto. Mais um imaginário forte a ser trabalhado, esse referente ao patriotismo de cada um. Seria mesmo necessário um signo comum para que houvesse a comunicação?E, havendo comunicação, seria ela da ordem do sensível, ou apenas um compartilhamento temporário de lugares e experiências estéticas?Porque, por vezes há sorrisos em seus rostos, mas seria possível que o sensível os atingisse para além do entretenimento?Tais são algumas perguntas que me faço, enquanto guardo os equipamentos no armário.

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